Florestas tropicais do tamanho da floresta amazônica têm o seu próprio microclima. Conheça mais sobre o clima da floresta tropical.
Douglas Ferreira | 27 de Outubro de 2021 às 13:00
As manhãs na floresta tropical começam com um luminoso céu azul. Mas à medida que o dia avança, as coisas mudam de maneira espantosa. Por volta do meio-dia, as nuvens estão se formando e o ar é quente e úmido, e no meio da tarde a chuva cai de repente de um céu densamente nublado. Relâmpagos se bifurcam para o chão, acompanhados por trovoadas ensurdecedoras, e isso é certo de ocorrer por grandes partes do ano.
Enquanto a maioria dos lugares no mundo mede a precipitação pluviométrica em milímetros, as florestas tropicais têm metros de chuva. Nelas, chove em pelo menos 130 dias por ano, e em alguns lugares, como a bacia amazônica, pode chover em mais de 250 dias por ano. Mesmo assim, pode haver variações. Em algumas florestas, a precipitação pluviométrica é sazonal, criando estações úmidas e secas. Ela também pode variar consideravelmente de uma parte da floresta para outra, dependendo da topografia e da densidade de árvores. No entanto, a temperatura do ar é constantemente morna, com frequência quente, com máximas de 31°C e mínimas noturnas raras vezes inferiores a 22°C.
Florestas tropicais do tamanho da floresta amazônica têm o seu próprio microclima. Cerca da metade da precipitação pluviométrica origina-se da água reciclada pela “evapotranspiração” das folhas do grande oceano de árvores da floresta tropical – a Amazônia estende-se sobre o equador, por isso o Sol está bem acima e sua intensidade é tal que evapora enormes quantidades de água.
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O restante da precipitação pluviométrica chega de outros lugares. Na Amazônia, os ventos alísios trazem umidade do oceano Atlântico. O ar úmido converge para a bacia amazônica, limitada pelo planalto da Guiana ao norte, pelos Andes a oeste e pelos planaltos brasileiros ao sul. Por fim, o ar morno e úmido é forçado para cima pelas montanhas. No oeste, ele esfria, se condensa e se precipita como chuva nos contrafortes andinos e como neve nos picos andinos mais altos.
Esse sistema substancial de autoirrigação afeta tanto o clima da região amazônica quanto o do mundo. A região é parte da Zona de Convergência Intertropical, onde duas importantes massas de ar se encontram – uma do Hemisfério Norte e a outra do Hemisfério Sul. A energia liberada durante as tempestades tropicais nessa zona é imensa, e acredita-se que ajude a acionar a circulação atmosférica em todo o planeta. Além disso, a vegetação nas florestas tropicais absorve calor, o que ajuda a esfriar a atmosfera, além de absorver e reter água. Isso torna grandes áreas de floresta tropical, como as das bacias amazônica e do Congo, importantes reguladores do clima mundial.
Até as florestas tropicais têm estações – ocasiões em que o tempo é mais úmido ou mais seco. Há pouca variação na duração do dia e na temperatura ao longo do ano, mas a precipitação pluviométrica, embora em geral alta, varia. Na bacia amazônica, por exemplo, há uma estação mais seca de agosto a novembro, e os meses mais úmidos vão de janeiro a abril. Mais ao norte, nas florestas tropicais de Belize, na América Central, a estação chuvosa começa acanhadamente em junho e é mais forte em julho. Ela dura até dezembro, seguida por um período relativamente seco de meados de fevereiro a maio. Em termos gerais, quando está seco nas florestas ao norte do equador, está úmido nas florestas ao sul dele.
Essa variação ao longo do ano afeta as plantas e os animais. A maioria das árvores produz flores na estação seca, quando o pólen transportado pelo ar é carregado por mais tempo nos ventos mais secos. Essas condições facilitam o voo dos insetos, o que também ajuda a polinização.
Depois de as sementes serem dispersas, as mudas brotam no início da estação chuvosa. Onde houve queda de árvores grandes, permitindo que a luz alcance o chão da floresta, há um súbito aumento no desenvolvimento das jovens plantas “pioneiras” pelas lacunas resultantes no dossel.
As árvores que cresceram até o dossel crescem mais rápido na estação seca, quando o céu é azul por mais tempo e há mais luz solar disponível para sustentar a fotossíntese. As folhas são como minúsculas fábricas de substâncias químicas, transformando ativamente a luz solar, a água e o dióxido de carbono em açúcares e amidos. Mais da metade de todas as plantas das florestas tropicais seguem esse padrão.
Com pouca variação de temperatura e nenhuma geada, as árvores das florestas tropicais são em sua maioria sempre-verdes. Elas não perdem as folhas sazonalmente, embora tendam a desenvolver novas no início da estação úmida. As novas folhas são menos protegidas pelos sistemas de defesa química da planta e, portanto, mais vulneráveis aos animais que delas se alimentam, como os bugios na América do Sul e os macacos-narigudos no Sudeste Asiático. Ao sincronizarem o novo crescimento, as árvores asseguram que pelo menos algumas das novas folhas sobreviverão, já que os animais que se alimentam delas não podem comer todas.
Há, no entanto, uma inversão das cores sazonais, observada no restante do mundo. Nas florestas tropicais, os vermelhos, amarelos e laranja associados ao outono aparecem quando as árvores dão novas folhas. Nas florestas australianas, novas folhas em árvores como a Syzygium francisi e S. luchmanii produzem um pigmento vermelho, a antocianina, que protege o desenvolvimento do sistema fotossintético em seus tecidos. A antocianina reflete a luz vermelha e absorve a luz na extremidade azul do espectro, por isso age como um filtro solar, evitando que a luz penetre na folha até que esteja pronta para realizar a fotossíntese.
As variações entre as estações úmida e seca também afetam o comportamento dos animais. Em Madagascar, os sifakas reduzem a área em que procuram comida e fazem uma sesta à tarde durante a estação seca, quando há menos alimentos de origem vegetal de qualidade. Na Guiana Francesa, os bugios-vermelhos não só mudam a dieta como também o método de locomoção. Na estação seca, eles engatinham ao longo dos galhos grandes, parando de vez em quando para comer folhas. Na estação úmida, sentam-se e alimentam-se de frutos – alimento que exige mais concentração e manipulação.
Na mata atlântica do Brasil, o mico-leão-preto, um pequeno macaco do Novo Mundo, durante a estação úmida concentra-se em frutos, que exigem menos deslocamento. Na estação seca, ele pega mais alimentos de origem animal, como grilos e gafanhotos, e vasculha a floresta mais amplamente para encontrá-los.
Em Sulawesi, na Indonésia, o társio-espectro procura alimentos mais amplamente durante a estação seca, quando os insetos são menos abundantes. Ele também muda sutilmente a dieta, adicionando besouros e abelhas ao seu banquete de mariposas e gafanhotos da estação úmida.