Nos primeiros anos do casal, a realidade da rotina pode ser difícil. Mas com comprometimento e escuta é possível salvar o casamento.
É um despertar repentino. Depois de tanto tempo refugiados no casulo da euforia particular do romântico estágio da Paixão, um belo dia você se dá conta de que o casamento não é só fogo e felicidade. Seu parceiro é irritante e imperfeito. Seu grande amor parece menor. Ouvem-se menos ahhhh e mais uh-oh.
A vida real se instala com um baque quando seu casamento entra no estágio da Realidade. É impossível fazer vista grossa para o crescente monte de roupas sujas no lado dele (ou dela) da cama. Ou ignorar a infeliz descoberta de que seu par ronca, não contribui na limpeza da casa ou espera que você faça o supermercado.
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Você se pergunta por que seu casamento já não faz você ter delírios de felicidade 24 horas por dia. E deseja poder voltar ao paraíso do estágio da Paixão. “As lentes cor-de-rosa vão desaparecendo”, observa Patty Howell, consultora de relacionamentos e autora de “World Class Marriage – The Art and Science of Relationship Success” (Casamento de primeira classe – a arte e a ciência do sucesso de um relacionamento).
“Você vê o outro mais objetivamente. As ilusões se desfazem. Os hormônios e substâncias químicas do cérebro que faziam o início do amor tão empolgante estão se esgotando. Esse é um momento fabuloso para começar a construir um relacionamento verdadeiro – desde que você não ceda à tentação de se livrar de seu casamento ou seu cônjuge.
Quando a paixão diminui, é hora de conhecer o verdadeiro “eu” de cada um
Culpe a Mãe Natureza por essas mudanças. A emoção do “coquetel do amor” de substâncias químicas do cérebro que mantinham você feliz no estágio da Paixão assenta nos primeiros dois anos de casamento, dizem os pesquisadores do cérebro.
Os níveis dos hormônios do prazer caem. Os níveis da “substância química do aconchego”, a oxitocina, elevam-se. Este hormônio calmo e caseiro é decididamente livre para todas as idades; é ele o responsável por fazer com que as mães queiram abraçar seus bebês quando estão amamentando. Mas não vai fazer vocês dois arrancar as roupas no banco traseiro do carro com toda aquela loucura e sensualidade da norepinefrina e feniletilamina.
Então você se sente um pouco desmotivado. Rabugento. Confuso. Será que deixei de amar?, você se pergunta.
Os casais no estágio da Realidade naturalmente saem em busca de explicações. Algo está errado, você pondera. Se consertar, pode ter aquele sentimento de volta. Mas você procura nos lugares errados.
É fácil criticar o outro, que agora parece tão humano e tão diferente da Cinderela ou do Príncipe Encantado. É fácil criticar seu casamento, também, quando você começa a perceber que ele não se encaixa nas expectativas de felizes para sempre que você alimentou na cabeça e no coração desde a infância.
Para tornar a situação ainda mais difícil, está na hora de os dois falarem sobre o que querem, do que precisam, de suas expectativas e sentimentos. E de descobrir como dividir as tarefas domésticas, pagar as contas e negociar um milhão de questões práticas rotineiras – nada românticas, mas diretamente ligadas à felicidade de vocês como casal.
É uma missão difícil, especialmente se você acreditava que o amor sozinho conquistaria tudo. “É fácil pensar que vocês formam um par especial, cujo amor será forte o bastante para resolver todos os problemas”, explica o professor e terapeuta conjugal Dr. Barry McCarthy. “E, quando o amor não é suficiente, é fácil tomar uma decisão emocional, concluir que vocês não são o casal perfeito e, portanto, que o vínculo se desfez.”
A primeira missão do estágio da Realidade? Não acredite que seu laço está desfeito. Entenda que chegou a hora de começar a ter um casamento real entre duas pessoas humanas e imperfeitas que ainda se amam profundamente, o segredo é ter confiança!
O choque do real
Os casais entrevistados recordaram vivamente os choques e as surpresas do estágio da Realidade. A boa notícia: olhando para trás, eles conseguiram rir juntos das diferenças que os irritavam antes. Eis suas histórias:
- “Fui criada com duas irmãs e meu marido, Bill, com dois irmãos; então foi a maior surpresa quando fomos morar juntos após o casamento”, conta Jean Cooley, da Flórida. “Foi um choque descobrir que aquele homem maravilhoso por quem eu havia me apaixonado tinha uns hábitos muito esquisitos! Bill deixava o assento do vaso sanitário levantado à noite. Eu sou do Meio-Oeste, onde estamos acostumados a comer seis tipos diferentes de legumes. Bill gostava de coisas exóticas, como quiabo e abóbora, e cozinhava de maneira diferente da minha. Nós discordávamos até sobre a maneira de fazer a cama. E ele se incomodava com os lenços de papel que eu deixava pela casa por não estarem totalmente usados. Bill gostava de planejar tudo com cuidado, e eu sou mais flexível; mudo de ideia. Acabamos reconhecendo que nossas diferenças são normais e não significam que um esteja fazendo de propósito para irritar o outro. Mas levou tempo!”
- “Após dois ou três anos de casamento, a lua de mel estava definitivamente encerrada”, conta Don Howard, do Missouri. “Houve um momento decisivo em que reconhecemos que nossa comunicação não era boa. Minha mulher, Teresa, era muito positiva, e eu tendia a não pedir coisas de que precisava. Tornei-me ressentido e frustrado, irritava-me e explodia ou simplesmente virava as costas e me afastava. Finalmente, tomei a decisão de me tornar mais positivo também, o que foi uma virada. Nós dois tivemos de nos ajustar! Não é fácil com todas as outras tensões da vida, como trabalho, filhos e atividades sociais, além da pós-graduação de Teresa. Sem uma boa comunicação, porém, um casamento fica sob muita pressão.”
- “Fizemos diversas descobertas sobre nossas diferenças logo no início do casamento”, lembra Greg Hunt, da Louisiana. “Nos primeiros tempos de paixão, só enxergávamos o quanto éramos parecidos, mas depois vieram as diferenças e elas realmente nos afetaram. Sou madrugador, ao contrário da minha mulher, Priscilla. Mesmo antes de levantar da cama já estou assoviando, e ela precisa de tempo para acordar. Sou extrovertido e Priscilla introvertida – isso criava algumas frustrações e conflitos. Tiro minha energia do convívio com as pessoas; ela tira do silêncio, de um passeio no parque ou ficando em casa comigo assistindo a um filme. Demoramos um tempo até nos compreender e dar um ao outro permissão para ser quem realmente somos.”
Missões do estágio da Realidade
Você pode se sentir perplexo ou sozinho no estágio da Realidade. Pode se surpreender criticando seu cônjuge internamente ou em voz alta. Se você estiver ansioso, achando que algo deu errado, é possível que se afaste de seu
parceiro ou se aproxime ainda mais. O estágio da Realidade pode parecer assustador, dizem os especialistas em casamento, porque vemos nossos próprios defeitos refletidos nas ações de nossos cônjuges, assim como víamos
refletidas neles nossas maravilhosas qualidades no estágio da Paixão.
Sua missão: Tomar o controle da carruagem
Está na hora de fazer o amor acontecer, em vez de esperar que ele chegue a você. Continue com as coisas divertidas que constroem um casamento recomendadas no estágio da Paixão. Crie tempo para o sexo e o romance, para verificar como está o outro. Essas medidas são mais importante do que nunca.
Ao estudarem recém-casados, pesquisadores da Universidade de Oklahoma descobriram que expressões de amor e afeto entre marido e mulher caem pela metade nos primeiros dois anos de casamento. Pesquisadores britânicos que acompanharam casais por 20 anos descobriram que o declínio mais íngreme na satisfação conjugal ocorria cerca de 18 meses após o casamento. Talvez este seja o motivo pelo qual as estatísticas brasileiras de divórcios mostram que 15% das separações ocorrem nos primeiros cinco anos.
Revele suas expectativas ocultas em relação ao casamento. Todos nós começamos o casamento com um monte de ideias, em sua maioria inconscientes, sobre o quanto tudo vai ser maravilhoso – expectativas a que nenhum ser humano consegue corresponder.
“Expectativas como ‘Tudo vai ser fabuloso, este é meu único amor, esta pessoa vai finalmente me fazer feliz, vou evitar todos os erros que cometi no passado’ jogam um peso enorme sobre nós, nossos cônjuges e nosso casamento”, diz Patty.
“Quando usamos estes padrões, julgamos o que está de fato acontecendo com muita severidade.” Vocês vão descobrir a maneira de ver e entender suas expectativas ocultas, separar as razoáveis das disparatadas e conversar com o parceiro sobre elas.
Aprenda a conversar com calma e confiança sobre suas necessidades e desejos. Seu cônjuge não pode ler sua mente. Muitas pessoas consideram assustador conversar sobre seus sentimentos, ideias, desejos e expectativas; outras simplesmente não sabem. Por que isso é vital: recusar-se a falar para preservar o status quo só vai deixá-lo ressentido e zangado, e confinar o outro no escuro. Entrar de sola vai colocar seu parceiro na defensiva.
Como falar de maneira positiva, sem criticar ou culpar seu cônjuge
O primeiro passo é aprender a escutar seu parceiro com empatia. Crie um porto seguro onde seu parceiro possa revelar emoções, ideias e expectativas íntimas sem que você tire conclusões, critique-lhe as vulnerabilidades ou tente consertar as coisas, quando ele precisa apenas que alguém o escute.
A combinação de falar honestamente e escutar com empatia gera aceitação e uma profunda compreensão – tornando vocês dois mais seguros e próximos um do outro. Seja autêntico em tudo e deixe que o outro também seja.
Uma nova pesquisa da Universidade da Califórnia descobriu que recém-casados que agem como amigos tanto quanto como amantes são mais felizes. Aprenda a ser mais genuíno, mais empático e mais tolerante, características da amizade que vão além das técnicas de comunicação e trazem seu coração, sua alma e todo o seu ser para o relacionamento.
As tarefas domésticas podem ser o primeiro campo de batalha dos casais. Aprenda como abandonar os papéis tradicionais e dividir com justiça o trabalho. Tornem-se experts em administração financeira. Nenhum outro assunto gera tanto conflito entre os casais como o dinheiro.
Muitos recém-casados, hoje, enfrentam um novo desafio: uma dívida significativa trazida para o casamento em decorrência da compra da casa, de prestações de carro, de cartões de crédito e de despesas relativas à cerimônia do casamento e à lua de mel. Saiba como suas personalidades financeiras podem ajudar – e não atrapalhar – quando vocês estabelecerem um caminho calmo e organizado para atingir suas metas financeiras e realizar seus sonhos.