Temos a sensação de que o ser humano cada vez mais quer ser o dono da razão, travando com aqueles que estão ao seu redor uma verdadeira guerra de egos.
Durante uns dias de férias na praia, toda manhã andamos uns quilômetros limpando tudo o que era lixo jogado na natureza.
Mesmo numa praia deserta e fora de temporada, tem um monte de plástico, embalagens, saquinhos, garrafas, canudos e coisas que alguém teve a coragem, a displicência e a negligência de jogar ali. Difícil se conformar com as gigantescas ilhas de lixo que espalhamos nos oceanos. E com a quantidade de animais que morrem por isso.
Faz parte da minha vida limpar qualquer lugar e considero o mar um santuário que precisa ser preservado. Limpo a praia e não importa se é de gente rica ou não, porque também os privilegiados sujam o ambiente. É difícil entender essa falta de consciência e atenção.
Muita gente pensa: Não vou limpar porque não fui eu que sujei.
Eu penso que isso pouco importa, pois a falta de educação faz parte de todas as classes sociais. Eu limpo tudo o que posso porque amo a natureza.
Numa manhã dessas, encontrei a dona de uma casa elegante e perguntei se ela podia ajudar a esvaziar uma cesta de lixo que fica logo em frente ao seu terraço. Sei que ela se importa com o meio ambiente, mas sua resposta foi: “Essa cesta não é minha. Tá na divisa pro lado do meu vizinho, que é um cara rico, e ele é que tem que limpar!”
Tentei argumentar, mas ela tava apegada à sua razão e não parecia querer mudar de ideia. E assim não limpou. Nem ela e nem ele. Quem perde nessa batalha de egos? Importa quem tem razão, se quem realmente sofre as terríveis consequências é aquele mar lindo e turquesa que fica em frente à casa dos dois?
Fiquei pensando como essa inflexibilidade da suposta razão faz mal a tudo e a todos.
De certa maneira é o que acontece numa briga de casal com filhos que se separa. A disputa entre os dois é de ego, de quem vai vencer a parada, do amor que virou raiva, ódio e desejo de vingança.
Essa energia transforma uma suposta ideia de razão numa atitude totalmente irracional.
O resultado disso é só destruição.
E são as crianças que ficam no centro do campo de guerra, sempre as mais atingidas.
Nessa relação, cada um se deixa dominar por um estado mental tão corrosivo, que nem percebe mais o mal que está fazendo para os filhos que ama tanto.
Essa guerra provoca marcas indeléveis na alma desses seres em formação, que são jogados de um argumento pra outro, ansiando desesperadamente por paz.
Importa vencer essa luta? E fazer tanto mal pra si mesmo e pra quem você mais ama? Que importa quem tem razão? E que razão é essa, tão nociva, tão tóxica, que vai envenenar a todos?
Existem muitas situações similares a esse massacre. Seres humanos e natureza são vítimas de uma posição egocêntrica, de poder, de orgulho, de uma absoluta falsa sensação de superioridade.
Essa é a arma dos fracos e não dos fortes.
Os fortes, os justos, os que compreenderam essa cilada, não se importam de ceder, de limpar, de buscar uma atitude serena porque o objetivo é tão maior. Não queremos vencer uma disputa, queremos melhorar o mundo em que vivemos.