As primeiras experiências e ensinamentos religiosos e filosóficos, ainda na infância, apontaram o caminho que a autora seguiria e o que diria a seu público.
Brunna Lombardi | 27 de Outubro de 2019 às 10:00
Minha família não foi particularmente religiosa. Tive a sorte de ter pais inteligentes, cultos, pensadores, gente de arte e cinema. Nas reuniões com amigos filosofavam sobre o sentido da vida e eu ficava escondida escutando. E mesmo sem entender nada dessas conversas profundas dos adultos, tentava repetir alguns discursos pra minha primeira plateia: meus cachorros e gatos.
Lembro da minha mãe lendo histórias pra me fazer dormir. Lia livros que tenho até hoje: Andersen, Carducci, os Irmãos Grimm, O príncipe feliz de Oscar Wilde e todos os libretos de ópera, com suas tragédias e comédias. Tudo isso mexeu profundamente com a minha estabilidade emocional.
Lembro também quando ela me ensinou a rezar. Eu sentia que suas orações eram poderosas e recorri a elas inúmeras vezes.
No meu primeiro ano de escola, tivemos aula de religião para nos preparar pra primeira comunhão. Chegou um padre com sua batina preta, nariz pontudo e os alunos comentavam que ele nunca sorria e nem cheirava bem.
Na sua primeira aula nos apresentou os dogmas com impaciência. Eu tinha sete anos e fazia perguntas, sem entender nada do que ele respondia. Ele não tinha nenhuma habilidade com crianças e era ríspido: “Você tem que acreditar e tá acabado.”
Aquela imposição me parecia absurda. Uma certa rebeldia crescia no meu espírito livre.
Na aula seguinte nos comunicaram que quem fosse de outra religião não precisava ficar na aula e podia ir pro recreio. Fui a primeira a sair.
Nunca fiz a primeira comunhão e por instinto troquei regras rígidas por liberdade. Meu interesse por questões espirituais cresceu e se expandiu. Troquei a obediência pela devoção ao que amo e descobri que existe disciplina, foco e busca pela excelência quando fazemos coisas que nos tocam o coração.
Nessa jornada vivenciei outras comunhões, passei por muitas experiências espirituais, místicas, conheci mestres e amigos e conversamos profundamente sobre o sentido da vida. Alinhei esses pensamentos com as leis do Universo e a abrangência de Deus.
Conheci ateus que rezaram em momentos críticos dentro de hospitais e religiosos que ficaram céticos diante das tragédias do mundo.
Mesmo que muitas vezes seja difícil compreender todo o mal que existe no mundo, ainda acredito no caminho do bem. Ainda acho que o bem é a grande maioria, mesmo com a avalanche de notícias ruins que nos atinge.
Uma vez meu pai me disse: “A grande herança que deixo para os meus filhos é a liberdade.”
Hoje acredito que essa frase resume todas as conversas que tentei entender quando criança, toda a fé que descobri, todas as escolhas que fiz baseada nos valores que aprendi, toda a minha busca de autoconhecimento e da trilha clara da felicidade.
Ainda apelo para as orações da minha mãe e aprendi a usar minha instabilidade emocional na minha dramaturgia. Sei que meu público aumentou, mas continuo minhas conversas sobre o sentido da vida pra minha plateia caseira de gatos e cachorros.
@brunalombardioficial
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