As primeiras experiências e ensinamentos religiosos e filosóficos, ainda na infância, apontaram o caminho que a autora seguiria e o que diria a seu público.
Minha família não foi particularmente religiosa. Tive a sorte de ter pais inteligentes, cultos, pensadores, gente de arte e cinema. Nas reuniões com amigos filosofavam sobre o sentido da vida e eu ficava escondida escutando. E mesmo sem entender nada dessas conversas profundas dos adultos, tentava repetir alguns discursos pra minha primeira plateia: meus cachorros e gatos.
Lembro da minha mãe lendo histórias pra me fazer dormir. Lia livros que tenho até hoje: Andersen, Carducci, os Irmãos Grimm, O príncipe feliz de Oscar Wilde e todos os libretos de ópera, com suas tragédias e comédias. Tudo isso mexeu profundamente com a minha estabilidade emocional.
Lembro também quando ela me ensinou a rezar. Eu sentia que suas orações eram poderosas e recorri a elas inúmeras vezes.
Essa mistura toda me orientou.
No meu primeiro ano de escola, tivemos aula de religião para nos preparar pra primeira comunhão. Chegou um padre com sua batina preta, nariz pontudo e os alunos comentavam que ele nunca sorria e nem cheirava bem.
Na sua primeira aula nos apresentou os dogmas com impaciência. Eu tinha sete anos e fazia perguntas, sem entender nada do que ele respondia. Ele não tinha nenhuma habilidade com crianças e era ríspido: “Você tem que acreditar e tá acabado.”
Aquela imposição me parecia absurda. Uma certa rebeldia crescia no meu espírito livre.
Na aula seguinte nos comunicaram que quem fosse de outra religião não precisava ficar na aula e podia ir pro recreio. Fui a primeira a sair.
E passei a acreditar em pequenos milagres.
Nunca fiz a primeira comunhão e por instinto troquei regras rígidas por liberdade. Meu interesse por questões espirituais cresceu e se expandiu. Troquei a obediência pela devoção ao que amo e descobri que existe disciplina, foco e busca pela excelência quando fazemos coisas que nos tocam o coração.
Nessa jornada vivenciei outras comunhões, passei por muitas experiências espirituais, místicas, conheci mestres e amigos e conversamos profundamente sobre o sentido da vida. Alinhei esses pensamentos com as leis do Universo e a abrangência de Deus.
Conheci ateus que rezaram em momentos críticos dentro de hospitais e religiosos que ficaram céticos diante das tragédias do mundo.
Mesmo que muitas vezes seja difícil compreender todo o mal que existe no mundo, ainda acredito no caminho do bem. Ainda acho que o bem é a grande maioria, mesmo com a avalanche de notícias ruins que nos atinge.
Uma vez meu pai me disse: “A grande herança que deixo para os meus filhos é a liberdade.”
Hoje acredito que essa frase resume todas as conversas que tentei entender quando criança, toda a fé que descobri, todas as escolhas que fiz baseada nos valores que aprendi, toda a minha busca de autoconhecimento e da trilha clara da felicidade.
Ainda apelo para as orações da minha mãe e aprendi a usar minha instabilidade emocional na minha dramaturgia. Sei que meu público aumentou, mas continuo minhas conversas sobre o sentido da vida pra minha plateia caseira de gatos e cachorros.
@brunalombardioficial
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