Você já se deu conta de quantas funções a gente exerce? Quantas centenas de milhares de pequenas tarefas se acumulam semana após semana numa pilha que
Você já se deu conta de quantas funções a gente exerce? Quantas centenas de milhares de pequenas tarefas se acumulam semana após semana numa pilha que parece nunca diminuir?
Por mais ativo e ocupado que a gente esteja e por mais coisas que faça, a gente continua devendo, tá sempre em falta… As coisas continuam vindo incessantemente numa espécie de trabalho contínuo, o tecer de Penélope, que todo dia recomeça e nunca termina.
Ouço amigos dizendo vamos desacelerar, ter uma vida mais tranquila, sem tantas obrigações etc. etc.
Mas mesmo pra quem consegue isso, as pequenas tarefas eternas continuam. E por mais incrível que pareça, mesmo se a gente não acrescentar nada, a montanha só aumenta.
O mundo externo cria um monte de tarefas básicas que se reproduzem velozmente, se multiplicam, cada uma com seus muitos desdobramentos.
Ufa! Fazer o quê?
Tudo isso interfere nas nossas vidas, nos enrola num emaranhado sem fim de burocracias diárias, coisas que emperram, esperas, fila, banco, boleto, atendimento, registro, contrato, pagamento, prestações, transporte, notícias, segurança, a demora dos outros, erros, perdas. E você pode acrescentar o que quiser e continuar sua própria lista. O mundo agride por todos os lados.
Quem mais quer paz, sossego, quer jogar tudo pro alto e sair por aí, cantando na rua e olhando tudo como se fosse pela primeira vez? Quem quer deitar na grama de um parque no fim de tarde e ficar olhando o sereno movimento das nuvens? Olha o horizonte, o mar, o rio, o pôr do sol, as belezas do mundo que são de graça?
Qual foi a última vez que você dançou sozinho no quarto? Que cantou no chuveiro? Que deu uma gargalhada de bobeira lembrando de um amigo?
Sei que não parece conciliável brincar e se levar a sério, mas quem se leva a sério só pode estar brincando. E saber brincar é um lance muito sério.
Quando eu era criança achava estranho os adultos não quererem brincar. Lembro de ter falado isso com a minha mãe, que naturalmente não levou a sério. Uma pena perder isso.