Para uma pré-adolescente, uma menina de 12 anos, uma mudança de cidade pode ser algo terrível. Mas pode ser também a descoberta de uma nova paisagem.
Aos 12 anos, ela já achava que não haveria mais surpresas na vidinha comum. Colégio, praia, poucos amigos e era isso. O apartamento de fundos, o quarto que dividia com o irmão, férias em Minas, a roda girando sempre para o mesmo lado. Até que um dia tudo mudou quando o pai entrou em casa com a notícia: “Vamos nos mudar.”
O mundo caiu sobre ela naquele instante, em um fim de noite de sexta-feira. Não houve fim de semana de praia que ressuscitasse a menina que morria mês a mês em sua dramaticidade crescente à espera da hora em que embalaria sua pequena vida comum e partiria para uma nova que, por decreto, seria horrível. Ela, que nunca antes havia saído do bairro e vivia em uma família que fazia sempre as mesmas coisas, em uma rotina que parecia uma corrente dentada, não sabia ser diferente.
Mas o tempo tratou de mudar isso, e ela foi salva.
O dia da mudança foi terrível, como o esperado. Nem a ideia de andar de avião – o Fusca amarelo virou lembrança – serviu para animar o cenário daquela cara emburrada. Ela escreveu cartas para o pai dizendo como amava o Rio de Janeiro. Achava que, se escrevesse, seria ouvida. Claro que de nada adiantou, os planos estavam traçados e lá foram eles para Porto Alegre. A partir daquele momento, o Sul entrava para a geografia interna da menina. Detestou – a princípio.
Foi recebida com ventos que quase a arrastaram ladeira abaixo da entrada do prédio. Era inverno. Sentiu-se expulsa da paisagem que mal começava a conhecer.
O que ela não esperava era que, em pouco tempo, os mesmos ventos que a arrastaram até lá trariam outras mudanças. Em breve, a menina de 12 faria 13 e iria, na paisagem que a princípio desprezou, e pensou ter sido por ela desprezada, descobrir pessoas. Entre essas pessoas, havia um garoto. Ele também era uma paisagem e, como o vento, traria mudanças. A partir dali, passou a gostar de sair da rotina e nunca mais conseguiu se acostumar aos dias sempre iguais.